segunda-feira, 27 de abril de 2009

Com muito Pedigree!

Antes da Nokia entrar nas nossas vidas, uma cadelinha simpática, amorosa e inteligente, que a minha mãe adoptou e que de um momento para o outro se tornou no centro das atenções de todos lá em casa, surripiando-me esse lugar privilegiado, não conseguia compreender o amor e a amizade que se sente por um outro Ser que não fosse da minha raça.

A Nokia viveu connosco durante doze magníficos e inesquecíveis anos. Tivemos momentos memoráveis que jamais esqueceremos. Era a minha mana caçula, a filha adorada dos meus pais, a afilhada mais querida da minha amiga, a sobrinha favorita das minhas tias e a vizinha mais simpática e conhecida no bairro.

Célebre pelos seus dotes futebolísticos como guarda-redes, apanhava de um pulo só, a sua pequena bola esvoaçante, fazendo inveja a alguns dos seus congéneres de profissão da selecção nacional.

Este novo membro, que a meu ver, não passava de um bebé com a diferença de este ser um bebé peludo, de quatro patas e em vez de palrar, latia e abanava o rabo, tinha as mesma regalias que nós. Ia de férias connosco, aquando o inverno passava os dias à lareira, e pelo verão passava os fins-de-semana na casa de praia, deitada à beira da piscina com os bigodes a tocar na água. Tinha uma cama em cada casa e dividia o mesmo quarto que eu, apesar dos meus protestos face ao seu ronco e aos seus gases fedorentos lançados a meio da noite, depois de um belo repasto de ração Eukanuba sabor a galinha.

Esta nossa verdadeira e fiel amiguinha deixou-nos há três anos. Foi sem dúvida o dia mais triste e doloroso da minha vida, aquele em que com ela ao colo, embrulhada num cobertor, me dirigi, juntamente com a minha mãe e a minha amiga, ao centro veterinário onde a adormecemos para sempre.

Nunca pensei que algum dia teria de tomar uma decisão tão difícil, mas a sua saúde estava tão deteriorada que a outra opção era vê-la sofrer. E pior ainda, corríamos o sério risco de ela morrer sozinha abandonada no silêncio da noite sem um único amigo para a abraçar e segurar na patinha enquanto dava o último suspiro. E isso jamais poderia acontecer!

Para ela a nossa amizade era extremamente preciosa e deixá-la sozinha nos últimos dias, horas, minutos ou segundos de vida seria considerado uma traição ao mais alto nível, pois ela nunca nos deixou nem por um único segundo que fosse.

Depois desta perda tão preciosa, os nossos corações fecharam-se num luto doloroso e indecifrável para os mais descrentes na espécie e prometemos nunca mais adoptar outro Ser meigo e amoroso como a Nokia.

Que estupidez a nossa! Como é que alguém no seu perfeito juízo pode renunciar a uma amizade tão digna e verdadeira como a amizade de um cão? Só quem nunca observou com atenção o olhar meigo e atento de um! Só quem nunca recebeu uma valente lambidela, com cheiro a ração, que nos molha até o mais recôndito dos poros e nos purifica a alma! Só quem nunca sentiu a fresquidão que uma cauda bem peluda a abanar, em alta rotação, proporciona! Enfim, só quem nunca conheceu o valor da verdadeira amizade!

Três anos após a sua morte a dor apaziguou e cada animal abandonado na rua era uma tentação. As visitas às lojas de animais passaram a ser uma rotina diária. Observar aquelas criaturinhas pequeninas a brincar era o maior dos prazeres. Mas a coragem de levar uma para casa faltava-nos. O medo da perda continuava a pairar sobre nós!

Até ao dia em que apareceu lá em casa uma bolinha de pêlo branco com não mais do que 20 centímetros de cumprimento e 250 gramas de peso, a tremelicar de frio, a quem baptizamos de Googie, mas a qual tivemos que rebaptizar, umas semanas mais tarde, pois a pequena não se dava pelo nome.

E desta forma, a Niki entrou nas nossas vidas. Uma cachorrinha traquina e brincalhona de ar frágil mas de personalidade forte que adora morder e destruir tudo o que apanha e que mais parece um elástico de tanto pular.

Nunca pensei que um animal, que não fosse selvagem e, obviamente, que não fosse o Marley do John Grogan, pudesse ser capaz de provocar o caos e a destruição.

Há uns anos, quando li o livro do John Grogan, um dos meus livros favoritos, senão mesmo O FAVORITO, dei por mim, muitas vezes a gargalhar que nem uma doida, (é bem verdade que também verti muitas lágrimas num pranto violento em que, seguramente, não parecia menos doida), com as peripécias do Marley onde revi a Nokia, que tal como ele adorava passear com a nossa roupa interior pela casa, especialmente quando tínhamos convidados. Contudo, nunca teve aquele comportamento, impulsivo e obsessivamente destruidor, como o Marley. E nunca pensei que mais algum animal o tivesse, até a Niki, a cadelinha mimosa que acolhemos na nossa casa com apenas um mês e meio de vida revelar-se no mais selvático dos seres

Em termos proporcionais, e tendo em conta os seus leves 3 Kilos, é bem pior que o Marley. Nada escapa à sua boca cheia de dentes bem afiados. Desde os cabos dos computadores que já foram substituídos duas vezes; aos tapetes orientais da minha mãe, que já perderam mais de dois quilos de fios de lã; um sem número de meias e camisolas esburacadas; sapatos, revistas e livros roídos; bocados de madeira arrancados, oriundos sabe-se lá de que móvel, entre outras patifarias, as quais já perdi a conta.

Uma verdadeira terrorista canina, de narizinho preto em formato de coração, de olhar atrevido e de semblante feliz, que adoramos e que, obviamente, já se tornou no mais novo membro da família.

Sabemos que um dia também ela partirá das nossas vidas e que nos deixará um vazio enorme impossível de preencher. Mas enquanto estiver connosco terá o seu lugar reservado no nosso coração e nas nossas vidas, tal como qualquer outro membro da família.

Em memória da minha Nokia. A cadelinha mais inteligente e meiga do mundo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Já estava na hora de ter coragem!

Quando comecei no meu antigo emprego, a ociosidade imperava os meus dias, qual Rainha no seu reinado.

Aquelas horas ali vividas eram um verdadeiro martírio!

Vinha habituada ao ritmo alucinante da banca de investimentos, onde tudo acontece ao mesmo tempo sem se fazer anunciar. Contudo, o ritmo, ali naquele novo espaço, era lento, vagaroso, viscoso, pegajoso …

Não existiam tarefas a executar, relatórios a concluir, e-mails a enviar nem prazos a cumprir, a não ser atender os telefonemas do meu chefe, de duas em duas horas, para verificar se eu já tinha desistido de tal penitência ou se por ventura me tinha deixado levar pela lei da gravidade e deixado pender a cabeça no sono dos justos. Aliás, neste caso, seria mais o sono dos quase alienados.

Os dias passavam lenta e impiedosamente. Estar oito horas fechada num gabinete sem ter nada que fazer e ainda por cima sem poder dormir umas sestas era torturante, depressivo e desolador.

Tenho a certeza que durante estes meses, paguei todos os pecados cometidos e os que virei a cometer para o resto da minha vida.

Contudo, e como eu sempre acreditei, que nada acontece por acaso, estes momentos de ócio deram-me a oportunidade de descobrir algo que nunca pensei gostar e especialmente ser capaz de fazer.

Tudo começou com a leitura incessante de livros dos mais variados temas. Uns mais interessantes do que outros e uns menos óbvios do que outros. Do romance à ciência nada me parava.

Lia com a intenção de não adormecer e especialmente para não dar de vez em maluca. Os Currículos enviados não surtiam o efeito desejado e já não existiam novos mares por navegar entre os oceanos Google, Hotmail e Sapo, no imenso planeta Internet.

Até ao dia em que em vez de ler, tentei escrever. E não é que gostei! E cá para nós; até acho que não me saí nada mal!

Confesso que escrever nem sempre fora o meu forte! No liceu nunca fui boa aluna a português. Achava toda aquela história de rimas, decassílabas, estrofes e afins, uma seca.

Quando entrei na universidade as línguas nunca foram o meu forte, apesar de entrar para um curso de vertente linguística. Era um zero à esquerda!

Mas este bendito e sonolento emprego salvou-me da ignorância e deu-me a oportunidade de aprimorar o meu vocabulário que até à data se baseava numa linguagem bastante técnica, de onde sobressaíam uns estrangeirismos muito pomposos, memorizados à pressa para impressionar os clientes com o meu profissionalismo, entre os quais destaco os meus favoritos: “acquisitions, private banking, asset management e afins".

Actualmente, já não me encontro naquele lento e moroso emprego. Tenho um novo trabalho que adoro e onde, felizmente, não tenho muito tempo para escrever!

Agora, só dou asas à minha imaginação no silêncio dos meus serões, com o meu edredão como único companheiro, amigo e ouvinte, até à chegada tardia mas muito apelativa do meu companheiro, amigo e ouvinte de carne e osso.

A insegurança, a vergonha e o medo de fracassar impediam-me de partilhar esta experiência de escrever e de expor a minha intimidade. Sim, porque a meu ver, não existe nada de mais intimo do que os nossos pensamentos. Que nos identificam, que nos individualizam e que nos espelham!

Contudo, depois de pesquisar alguns blogs ganhei coragem e aqui estou eu!

Apesar de não me identificar, e de não divulgar o nome do meu blog a todos, (incluindo pessoas muito especiais), pois seria um passo muito mais além daquele que, neste momento, estou disposta a dar, tenho a certeza que algumas pessoas, (especialmente a minha amiga do coração), vão-me reconhecer!

Se a imaginação não me faltar, e desejo veemente que não, escreverei algo que esperarei ser interessante, divertido e apetecível.

Até lá.