quinta-feira, 24 de maio de 2012


Ontem dei comigo a pensar numa aula de português do secundário em que debatíamos o tema “Droga”. Lembro-me especialmente de uma colega, que no apogeu da sua autoconfiança, com apenas 16 anos de idade, disse: “Se eu tiver um filho toxicodependente, prefiro vê-lo morto a vê-lo nessas figuras.”

Nunca mais me esqueci da sua expressão convicta e arrogante de quem tudo sabe, de quem parece já ter vivido uma vida longa cheia de dificuldades e infelicidade. Pior que esta opinião imatura foi a minha digníssima aprovação.

Estúpidas! Burras! Envergonho-me até hoje. Quando somos adolescentes achamos que sabemos tudo acerca do mundo, acerca dos sentimentos, que o que já vivemos basta-nos para formar opiniões sobre a vida real, sobre esta profissão que tem tanto de compensatória como de exigente: ser mãe.

Que ingenuidade pensar-se que aos 16 anos pode-se saber o que faremos aos 30 ou aos 40. Que ingenuidade pensar-se que aos 20 anos já sabemos o essencial da vida. Aliás, nem aos 20, nem aos 30, nem aos 60, saberemos o que é o alimento mais saboroso da vida se nunca provarmos este doce sentimento que nos sacia o coração e nos alimenta a alma. Que nos dá força e poder, que nos mantém humildes e crentes perante a força de Deus.

 Quando penso no futuro do meu filho vejo-o casado ou solteiro, com filhos ou sem filhos, heterossexual ou homossexual, engenheiro ou bate-chapas, cantor ou actor, tanto faz, não importa as escolhas que tomar, as suas opções são assunto dele, o que apenas desejo é que seja essencialmente feliz e saudável.

Estarei lá sempre que ele necessitar de amparo e de amor redobrado, triplicado, quadruplicado. Tentarei impregnar a sua mente e o seu coração de afeto, de bondade e fé, pois são as armas mais preciosas para combater este mundo duro e cruel, cheio de armadilhas e embustes. Por isso afirmo com a firmeza destemida só de quem é mãe, que ficarei sempre do seu lado para o que der e para o que vier. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

Onde é que elas foram parar?


Em miúda e na adolescência era magríssima, assim para o escanzelado. Um montinho de ossos todos muito bem articulados. Movia-me com destreza e elasticidade. Na aula de educação física, e logo a seguir à minha amiga M, era a melhor nas cambalhotas e nos saltos de trampolim, já no futebol tentava esquivar-me das boladas que me derrubavam e me estragavam pose de Lady. Não era a miúda mais gira do colégio e nem tampouco a mais desejada. Desde cedo percebi que os homens preferem as roliças com chicha. Para meu desgosto a única coisa que sobressaía no meu corpo ossudo eram as minhas mamocas, redondas e rechonchudas que eu tentava a todo custo esborrachar atrás de um soutien que de tão apertado quase me sufocava. Eram o centro das atenções, chegavam a todo lado 1 segundo primeiro do que eu. Eram um cartão-de-visita embaraçoso, especialmente na praia. Deitada de barriga para cima, o meu corpo magro quase se confundia com a areia, não fossem as ditas que de tão empinadas mais pareciam o Empire State Building, a dobrar, um ao lado do outro, ali taco a taco.

Por volta dos 24 /25 anos o meu corpo começou a ganhar um novo formato. Sim, eu sei que foi um pouco tardio, comparativamente com as outras raparigas que por volta dos 14/ 15 anos já parecem a estrada de acesso à serra da Arrábida, cheia de curvas e contra curvas. Mas só quando comecei a praticar desporto e a gostar de fazê-lo, (gosto que se mantém até aos dias de hoje, mas que infelizmente não consigo concretizar por falta de tempo), é que efetivamente se verificaram resultados. De bacalhau seco e desenxabido passei a uma bela e magnifica sereia. Estou a brincar, desculpem a insolência. É claro que estou a exagerar. Obviamente não ousarei comparar-me com a linda e escamuda sereia Soraia Chaves com a sua barbatana vermelha no mar Vodafone. Bem pensando melhor, até existe algo em comum entre nós, para além da cor do cabelo, aquilo, ou melhor, aquelas que me causaram tantos complexos na adolescência mas que a ela lhe renderam tanto protagonismo. As mamocas pois claro, o que haveria de ser.

Tudo isto para resumir que hoje de manhã enquanto espalhava o creme pelo corpo reparei que as ditas que outrora me deram tantas dores de cabeça estavam menos rechonchudas, um pouco descaídas até.

Mas ca raios! Onde é que elas foram? – Pensei, incrédula enquanto me virava para o espelho para ver o que se passava.

Constatei, que de facto não estão tão rechonchudas, e os soutiens que outrora me assentavam que nem uma luva, estão um pouco largos.

Mas por que carga de água estarei a perder este atributo que ultimamente até achava graça? – Pensei, preocupada.

Nisto olho para o meu Di, que de dedinho em riste apontava para as ditas cujas e palrava um “mamamamamamama”, demonstrando a sua vontade de se saciar.

Pensei, pois bem ora aqui está a resposta à minha questão. Enquanto ele cresce, elas minguam!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Filhos - Helena Sacadura Cabral



Ontem de manhã estava a rodar canais e parei na TVI quando me pareceu ver a Helena Sacadura Cabral. Fiquei incrédula, dias após a morte do seu filho Miguel, e lá estava a Helena com o seu enorme sorriso, que tão bem a caracteriza, sentada entre o Mário Zambujal e a Júlia Pinheiro. Ainda pensei que o programa teria sido gravado, mas depressa a duvida se dissipou quando vi a palavra Directo.

Como conseguia a Helena estar ali em amena cavaqueira depois de tamanha perda? Pensei como me sentiria perante a perda de alguém que eu amasse muito. Mas nunca o meu filho. Isso para mim é impensável, não me consigo ver a sobreviver ao meu querido Di, e olhem que acredito que a nossa existência não acaba aqui. Acredito que somos seres essencialmente espirituais e que quando fisicamente nos extinguirmos nos encontraremos com os nossos mais queridos (e com os menos, também!) em alguma parte deste enorme universo. Mas prefiro ser eu a esperar por ele nesse tal lugar, que nunca ninguém viu, não vá o diabo tecê-las.

Pensei na morte do meu pai, da minha mãe, do meu irmão e do meu marido, as pessoas mais importantes da minha vida. Em como seria doloroso perde-los. Em tempos desejei morrer primeiro que todos eles, para não ter que passar por tanto sofrimento, mas após o nascimento do meu filho tudo mudou. Quero vê-lo crescer e tornar-se num homem essencialmente feliz, para além de tudo o que possa vir a conquistar.

Da incredulidade passei à admiração. Admirei a Helena pelo exemplo de força interior e especialmente pela doçura. Sim, acho que é preciso uma paz de espirito e uma força interior inabalável para se enfrentar a morte de um filho com tamanha doçura. É preciso já se ter vivido o bastante para se atingir o patamar que a Helena atingiu, é preciso conseguir aceitar a dor que a falta física nos proporciona e fundamentalmente, é preciso perdoar quem nos abandonou e decidiu partir, ainda que inconscientemente.

Só um aparte, acho que a Helena acredita que o diabo não vai tece-las! E quem acredita, consegue.