sexta-feira, 31 de agosto de 2012

14.º Campeonato de Escrita Criativa - 2.º Desafio

Escreva uma carta ao seu brinquedo favorito.


Olá amiguinho,
Vieste antes do tempo sem data nem hora marcada. Ocupaste o teu lugar sem avisar, apareceste assim do nada. Usurpaste-me os planos, as viagens, os serões, as leituras, o tempo, esse bem precioso, que despendia conforme me apetecesse, sem horários nem urgências. Com a destreza e a coragem, que tão bem caracterizam a tua personalidade, tornaste-te no centro do meu mundo, e auto-nomeaste-te o meu “brinquedo” favorito. Um brinquedo muito real, que chora, que come, que faz xixi e cocó, que adora os meus miminhos, que me rodeia o pescoço num abraço apertado e que me encharca o rosto com beijos deliciosos e dentadinhas dolorosamente prazerosas.
Dono do sorriso mais lindo e da gargalhada mais viciante do mundo, és tu o despertador das minhas manhãs, o senhor dos meus dias, a estrela das minhas noites, o meu “brinquedo” vivo de carne e osso que atrai toda a minha atenção, lealdade e amor. Acompanhar a tua aprendizagem, partilhar cada nova vivência, cada gracinha, cada traquinice é o meu passatempo favorito. Deixei as leituras e as séries do Fox Life, para próximas núpcias. Contemplar-te dá-me infinitamente mais gozo.
Quero que saibas que és o melhor “brinquedo” que alguma vez recebi. És infinitamente melhor do que a mansão da Barbie que recebi pelo Natal de 84 ou que a viagem a Nova Iorque em 2007.
És único, és o meu filho querido, és o melhor que a vida me deu.
Amo-te
Um chi-coração da mamã.

14.º Campeonato de Escrita Criativa - 1.º Desafio


Imagine e descreva como seria o dia mais estranho que poderia viver no seu local de trabalho.

Assim que passo a porta noto a sua ausência.
O que lhe terá acontecido? – Penso. - Nunca se atrasou, sequer um minuto, durante todos estes anos! 
A sua cadeira vazia, é engolida por um silêncio sepulcral. Sinto-lhe a falta. Não tenho ninguém a quem dizer bom dia, nem tão pouco com quem dividir o meu silêncio. Onde está aquela voz rouca que esporadicamente se ouve, a não ser para expelir ordens arrogantes? Que faz perguntas para as quais só ela tem as respostas e que não se cansa de trautear canções irritantes que se misturam com o som dos teclados.
Sento-me no meu lugar de onde vislumbro a sua secretária arrumada e organizada, na qual aparentemente costuma reinar o caos e a confusão, mas onde tudo tem uma ordem só compreensível ao seu senhorio.  

Sinto-me confusa, por esta altura já tinha ouvido o seu pigarrear irritante pelo menos dez vezes. Havia dias em que o seu esforço constante em clarificar a voz irritava-me. Hoje, estranhamente, sinto-lhe a falta!

- Sabes alguma coisa do chefe? – Pergunto ao meu colega que acaba de chegar.

- Não, porquê, ainda não chegou? – Questiona admirado. – Deve estar para cair algum santo do altar! – Exclama divertido.
- Parvalhão. – Pensei, sem responder enquanto ligava o computador.
Bem sei que não é uma pessoa de fácil trato. Rígido, arrogante, taciturno, autoritário. Mas gosto dele! Sempre gostei!
A meio da manhã recebo um enorme ramo de flores, com um bilhete, que diz:
- Bom dia, foi um prazer conhece-la e trabalhar consigo. Devo-lhe dizer que desde que aconteceu a revolução dos cravos, que deixou este país de pantanas e especialmente os jovens de cabeças às avessas, a Ana foi a minha melhor aprendiz. Desde já nomeio-a minha substituta. Está apta a tomar as rédeas e pôr essa gente na ordem. Da minha parte, vou gozar os restantes dias que ainda tenho de boa saúde ao lado da minha companheira de há mais de sessenta anos. Aquela que sempre me apoiou e que sempre tolerou o meu mau feitio. Já estou velho para correrias, os meus setenta e oito anos já me pesam.
Uma última ordem: apaixone-se, senão vai acabar ranzinza como eu.
PS: Partilhar do seu silêncio foi um enorme privilégio.

14.º Campeonato de Escrita Criativa com Pedro Chagas Freitas




Resolvi que, se calhar, seria uma boa ideia. Pus o medo da rejeição de parte e atirei-me de cabeça. Vamos lá ver no que vai dar! Já diz o velho ditado, que quem não arrisca não petisca.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012



Ontem enquanto aguardava pelo talão referente a um pagamento, irrompe pela loja adentro uma mulher com duas crianças. Uma menina que passeava a alta velocidade um carrinho de bonecas e um menino que corria em círculos. Ambos falavam muito alto.
A mulher dirigiu-se ao balcão e disse que queria ter uma conversa privada com a empregada. De repente, sem aviso prévio, e ainda estando eu presente, começou com um discurso nervoso e atabalhoado.
Na casa dos trintas e muitos ou quarentas e poucos anos esta senhora elegante, de cabelo negro e com evidente formação superior estava completamente transtornada. O filho de 14 anos tinha ido viver com o pai em troca de uma bicicleta. Ela estava revoltadíssima porque tinha sido despedida da empresa onde trabalhava por ter ficado grávida e até já se tinha sujeitado a um trabalho intelectualmente inferior para poder criar os filhos condignamente. O contrato findou e veio de novo para o desemprego. Como vingança, e forma de lavar a alma, propôs-se a difamar a empresa que a tinha despedido ilegalmente. Agora, anda de loja em loja, em todos os centros comerciais, onde esta empresa está presente e pede para que ninguém consuma produtos da respectiva marca.
Saí daquela loja com o coração magoado, pude sentir-lhe o sofrimento e a doença que se tinha apoderado do seu corpo e do seu espirito. Aquela mulher exalava ódio, rancor, raiva, mágoa, uma miscelânea de sentimentos negativos que a deprimiam e a arrasavam. Era contagiante aquele seu estado de alma.
á diz o velho ditado que não é com vinagre que se apanham moscas. Não é enviando ódio e raiva que recebemos amor e afecto.
A grande maioria das pessoas concentra de maneira errada a sua energia.  Focam-se no que não têm, no que gostariam de ter, naquilo que os outros têm. Na raiva, na inveja, na vingança. Acredito que aquilo em que nos focamos é o que recebemos de volta, qual boomerang. Mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou de outra, recebemos o troco.
Perder um filho, seja de que forma for, deve ser realmente de uma dor indiscritível. - Nem quero pensar nisso. Sou incapaz de me meter no lugar de uma mãe “órfã”. - Mas acredito que o amor fala mais alto que qualquer bicicleta ou Ferrari, e, quanto a mim esta senhora só está a perder o tempo que deveria empregar em amor, carinho e atenção consigo mesma, e especialmente, com os filhos que infelizmente absorvem toda a sua negatividade. Não é desta forma que conseguirá um emprego e muito menos reaver o amor e a atenção do seu filho.