sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

1.ª Jornada do 28.º Campeonato de Escrita Criativa

Um homem está sentado na esplanada quando, de repente, um cão de pequeno porte se senta no seu colo. 

Vinte e cinco anos, licenciado em biotecnologia, desempregado e introvertido, António Casulo, como de costume, todas as amanhãs, ocupava aquele mesmo lugar na esplanada do café do Moisés, ali para os lados da Ajuda.
Desfolhava o jornal e esmiuçava de fio a pavio os classificados, procurando um emprego para a área na qual havia queimado tantos neurónios.
Aquela manhã assemelhava-se a tantas outras. Tudo apontava que seria apenas mais um dia enfadonho comum a tantos outros, não fosse o caso de um maldito caniche, feroz como um lobo da Alsácia, saltar-lhe para o colo e todo entesado, rosnar-lhe baixinho com o focinhoapontado à braguilha.
Casulo tremeu. Em toda a sua vida nunca tinha dado uso ao dito cujo e esperava não ficar sem ele antes de o ver em acção. “Pelo menos uma vez na vida!” – Murmurou. Tentou erguer-se sem êxito. Aquela bola de pêlo branco, como a neve, de caninos afiados concretizou o que já havia ameaçado. Abocanhou-lhe a breguilha. Por sorte, só apanhou o tecido grosso das Levis.
- Lulu, o qui está fazendo? A mamãe já ensinou pra ocê que isso não si fazzz - disse uma mulata, de lábios carnudos, pintados de vermelho e de sotaque brasileiro.
- Mi desculpa. O Lulu anda muito assanhado.
- Parece que sim! – Respondeu-lhe Casulo segurando as intimidades, aliviado por o selvático Lulu o largar.
- Vamos Lulu – disse a mulata apressada virando-lhe costas.
O cão obedeceu e Casulo, petrificado, observou-os até desaparecerem.
- É pá, ó Casulo, acho que foste atacado pelo bando da bola de neve – gritou Moisés acenando com o jornal na mão. – Vê lá se te roubaram a carteira!
Na primeira página do DN: “Bando Bola de Neve ataca em esplanadas.”
- O quê? Merda! – Disse Casulo ao constatar a artimanha de que fora vitima.