Depois de um fim-de-semana, de convivência familiar ainda me sinto de ressaca.
Não é uma ressaca normal, daquelas em que abusamos da sangria de champagne francês (Champagne!? Francês?! Dizem eles! Porque pela dor de cabeça com que fico deve ser espumante do mais rasca que existe!), num desses restaurantes da moda, onde somos recebidos por umas meninas que costumam aparecer em poses insinuantes nas revistas cor-de-rosa e agora também, de maminhas ao léu abraçadinhas a coelhinhos peludos e fofinhos, na Playboy e que se intitulam de relações públicas dos ditos restaurantes.
Coitadinhos dos animalinhos! Para o que haveriam de estar guardados! Antigamente, só tinham de preocupar-se com os caçadores! Agora, também estas malucas para lhes dar cabo da vida! Essa é que é essa! E ninguém faz nada! A liga protectora dos animais deveria agir o quanto antes!
Bem, mas deixemos estas predadoras e as suas presas para outras núpcias e vamos ao que interessa.
Necessito, preciso e reclamo veemente o vosso ombro amigo para desabafar e expandir todas as pimbalhices que testemunhei e que feriram de forma violenta e irreversível o meu bom gosto sensível e caprichoso.
Tudo começou no sábado no baptizado da Inês. Dotada de uns lindos olhos azuis é a cara do pai, que por sinal é meu afilhado!
Admirados?! Sim, tenho um afilhado de vinte e poucos anos que já é pai. E não! Não fui madrinha aos nove anos de idade nem tão pouco, aos cinco.
No dia do baptizado deste príncipe do pimba, tinha eu vinte e poucos anos e ele era já um calmeirão de onze ou doze anos, com os pêlos do bigode a quererem florescer.
Ah!, e já olhava para as miúdas com ar de conquistador, valendo-se dos seus lindos olhos de lince.
Para apimentar toda esta novela, foi ele quem me escolheu para madrinha, o que me envaidecia não fosse um dos motivos ser bastante decadente e indecoroso.
Para além da amizade de longa data que existe entre as nossas famílias, o puto achava a futura madrinha, - e não esqueçamos o significado religioso de tal personagem -, passo a citar: “uma ganda boazona, gira comó caraças”.
Regressando ao magnifico baptizado, que teria sido realmente magnifico não fossem os convidados, assim como, alguns dos familiares da pequena Inês, serem do mais brejeiro que existe, ou pelo menos que eu tenha conhecimento.
Oriundos de um dos bairros mais simbolistas de Lisboa, que agora não vou mencionar o nome por uma questão de vida ou morte!, soltavam carvalhadas e orvalhadas a todo o momento, entre outras delicadezas só dignas dos verdadeiros bairristas. Daqueles que têm amor à camisola, e que participam nas marchas aquando dos Santos Populares e que andam à batatada, e tudo, para disputar o 1.º lugar do concurso, fazendo-me lembrar os adeptos do Benfica.
As indumentárias eram de bradar aos céus! Uns senhores, suspeito que os mais acalorados, levavam a camisa, de padrão caribenho e cores garridas, aberta até ao umbigo, onde se podia vislumbrar uma farta pelugem e donde sobressaia um pesado cordão de ouro a condizer com o cachucho do dedo mindinho.
As suas acompanhantes, cobertas com vestidos pindéricos de tecido de lycra rasca, totalmente aderentes ao corpo, - porque o que é bom é para se ver! -, eram a cereja no topo do bolo, provocando náuseas aos mais sensíveis, especialmente ao meu querido, habituado a um corpinho de sereia, sem qualquer vestígio de celulite. (Estou a brincar! Só estou a ser um bocadinho convencida, porque faz bem ao ego!)
Os mais jovens, adornados de cristas impregnadas de gel, vestidos com fatos dois tamanhos abaixo, confundiam-se entre si, não fossem as companheiras, que pelo número de tatuagens e pela cor do fio dental, que saía para fora das calças, marcar a diferença.
Todos eles rodopiavam felizes, pela pista de dança, ao som do “Ai Destino, Ai Destino,” do Sr. Tony Carreira e como não podia deixar de ser, do “Apita o Comboio”.
No meio disto tudo o que mais dói é o facto de o meu afilhado conseguir bater o record da pimbalhice, apesar do exemplo de simplicidade e elegância da madrinha!
O miúdo, para além de se vestir inconvenientemente, de usar crista, qual líder de tribo indígena, e ter os dedos cobertos de cachuchos, tem um vocabulário incompreensível. Uma mistura de crioulo, com sabe-se lá mais que dialecto. Tudo menos a língua portuguesa!
(Mas como saiu o tal acordo ortográfico, se calhar sou eu que estou demodé!)
Para acabar o fim-de-semana em grande, no Domingo à noite estava eu muito sossegadita, deitada confortavelmente no sofá, na companhia do meu querido, a tentar esquecer os momentos de desilusão vividos na véspera, enquanto desfrutávamos de uma sessão de zapping, quando, e para meu grande espanto, vejo um dos meus familiares, a ser entrevistado, por um conhecido apresentador.
Bem, até aqui não existia qualquer inconveniente. O rapaz até se estava a sair bem e com alguma graça, não fosse a sua última intervenção inspirada, provavelmente, em alguma reunião dos alcoólicos satisfeitos, que destruiu por completo a sua reputação, a qual me deixou bastante envergonhada.
Foi um pesadelo, esse momento vivido na presença do meu mais-que-tudo, que fez de mim o seu alvo de chacota até ao final da noite.
- Xiiii amor, aquele consegue ser mais bronco que os gajos do baptizado! – Este foi o seu último comentário antes de apagar a luz para dormirmos, (irritante! Não?!), ao qual tive de impor-me lembrando-o alguns dos cromos que compõem a sua família.
É verdade que fiquei deveras envergonhada pelos laços que me ligam a estes exemplares de mau gosto, mas pensando bem: “olha, que se lixe!”. Cada um é feliz à sua maneira e a vida é para ser vivida da melhor maneira que sabemos e que podemos!