terça-feira, 30 de outubro de 2012


Nunca fiz nenhum feito extraordinário digno de comentários alheios, nem tão pouco de manchete no telejornal das oito. Em miúda nunca fui popular, nunca fui a mais bonita da escola, nem a mais inteligente da turma. Quando tirei dezassete no exame final de história fui alvo de contestação por parte dos meus colegas detentores de um QI superior ao meu. Diziam eles e acreditava eu.

Em adulta desesperei para arranjar um namorado. Nenhum homem gosta de um pau de virar tripas. Pensava, quando via no espelho a minha figura esguia donde sobressaía um rosto, pequeno, não tão feio assim, quase coberto por um emaranhado de cabelos que andavam por ali à solta, em desalinho, tal como a minha vida, até ao dia…

Todos estamos aqui por alguma razão. Tudo tem uma razão de existir. Cabe a cada um de nós procurar a nossa verdade. – Até ao dia… Até ao dia em que certa noite li num dos meus livros de auto-ajuda, que costumava ler sem convicção, estas frases feitas, lidas e relidas centenas, senão milhares de vezes. Naquela noite, ligaram um qualquer circuito que por defeito não veio ligado à nascença, ou foi desligado pela mão da minha infância traiçoeira.

Não sou nenhuma heroína; nunca salvei ninguém de morrer afogado. Não elevo ao apogeu milhares de fã; não sou cantora rock. Nunca ganhei nenhum prémio, nem tão-pouco fui condecorada por feitos transcendentes. É no dia-a-dia que me supero, quando retribuo amor, amizade e atenção. Supero-me, quando digo “amo-te” à pessoa amada e às que não são amadas. Supero-me, quando preparo uma tarte para o meu amado. Supero-me, quando chego a casa extenuada e é com prazer que brinco às escondidas com o meu maior amor. Supero-me, quando me comovo a ver um filme e choro qual Madalena arrependida. Supero-me, quando me olho no espelho e aprecio o que vejo. Supero-me quando perdoo quem me ofende.

Todos os dias contemplo a minha, a nossa, e a vossa vida. Todos os dias dou, retribuo e agradeço, as pequenas coisas que fazem da minha vida uma grande existência.