Detesto faltar aos meus compromissos. Quando me proponho a
fazer algo honro sempre a minha palavra. Detesto chegar atrasada, chego mesmo a
sentir calafrios e não aceito desculpas para não cumprir o prometido. Apreendi da
maneira mais dura a respeitar os meus compromissos quando na universidade fui
impedida de apresentar um trabalho por ter chegado atrasada.
Antes não tinha a noção de como isso incomodava os outros, de
como abusava de um dos mais importantes direitos consagrados a cada Ser Humano,
o tempo. O tempo dos outros e o nosso tempo. O tempo é um privilégio que deve
ser disponibilizado por cada um, conforme lhe apetece e por isso não temos o
direito de privar outrem do seu tempo.
Infelizmente, (e só de pensar fico doente) esta semana não
tive qualquer hipótese de cumprir com a minha participação no concurso de
escrita. O meu Di, ficou doente a meio da semana, não foi à escola, e com ele
por perto, sempre a solicitar atenções e miminhos torna-se impossível a minha
concentração para escrever.
Tentei escrever algo no Sábado, mas não consegui. O cansaço
falou mais alto e acabei por desistir. Preferi não entregar nada, a entregar
algo sem qualidade. No entanto, aqui ficam algumas linhas do que escrevi para o
desafio da semana.
Em que é que a expressão “uma ventania de riso” o faz pensar?
Todas as manhãs, só de pensar que tinha de passar naquele
corredor sentia náuseas, o suor escorria-me dentro da camisola, revolviam-se-me
as entranhas.
Os gritos e as risadas de escárino daqueles miúdos crueis
enquanto percorria aquele maldito corredor em direcção à minha sala de aula
eram como murros na barriga. Desde cedo aprendi o quão difícil é ser-se feia e
gorda.
Aquela ventania de riso actuava em mim como um ciclone de
raiva e ódio. Sentia-me pequenina, insignificante e diminuta, exactamente o oposto
da minha aparência grande e sebenta. - Olha a gorda! – Era a mais amistosa
saudação que podia ouvir. Creio que Jesus não ouviu tantos insultos enquanto
percorria o caminho que o levava ao calvário, como eu, quando percorria aquele
tunel de obscenidades. Ok. Jesus não sofria do mais desprezivel dos defeitos. Não
era gordo e até há quem diga que era um Tipo bem-apessoado!
Mas o pior disto tudo,
nem era o facto de ser a gorda da corte, ou o bode expiatório para todas as
maleitas e problemas do liceu. Nem mesmo os gestos obscenos e a dor física dos
pontapés infligidos me feriam como a minha cumplicidade. A minha vontade de ser
aceite por aquele grupo, obrigava-me a gargalhar a cada pontapé infligido e a
sorrir a cada apalpão dolorosamente ordinário. Fingia que não me importava e
que até gostava de ser apelidada de gorda, sorria com as obscenidades gritadas
por bocas que ainda não conheciam o seu significado. Magoava-me, feria-me no
mais profundo do meu âmago só para pertencer aquela
tribo. Só para ser aceite. Afinal, é o que todos queremos, pertencer a algo, a
alguém, ter raízes.
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