Sou uma chata de uma optimista, pode estar a cair a casa que
eu digo, “calma, vamos pensar numa solução”. Em todos os momentos desesperantes
da minha vida, que graças a Deus contam-se pelos dedos de uma mão, que chegam e
sobram, mantive uma calma, desesperante para os demais, e melhor ainda (pior
para os stressados por natureza), dei sempre a volta à questão e consegui ver o
lado positivo da tragédia.
Não, não vejo o mundo em azul-bebé com pintas verde-alface,
não sou irrealista, não vivo num mundo à parte perfeito e belo. Pelo contrário
vivo a minha vida com veracidade, contudo não me deixo ir abaixo com insignificâncias,
e encaro sempre o lado positivo de cada história, de cada pessoa, de cada
momento. Quero lá saber se há muito trânsito, ou se planei uma ida à praia e
está a chover a potes, ou se adoro aquele par de sapatos, mas já não existe o
meu número. O exterior não interfere na minha felicidade, apenas o aceito.
É verdade que nem sempre foi assim, conquistei aos poucos este
estado de consciência em que vivo. Mudei a minha opinião acerca de Deus e do
mundo quando há sete anos Ele enviou uma doença gravíssima, mortal para a
maioria dos pacientes, a uma das pessoas que mais amo e a que mais admiro.
Contudo, ainda esta manhã tomámos o pequeno-almoço juntos e percorremos o
caminho para o trabalho a rir das peripécias do meu filho, o seu neto mais
querido, o seu putinho.
Quando penso porquê que Deus ofereceu um cancro pulmonar ao
meu pai dez anos após o ter presenteado com um na garganta, acredito que foi a
única forma de nos abrir os olhos, de fazer um reset na nossa mente, de nos
achocalhar as ideias e o coração. Foi como se nos desse um calduço e dissesse:
“é pá deixem-se de merdas, amem, acarinhem e gozem a família fantástica que
têm, respeitem-se, olhem que esta vida acaba depressa por isso aproveitem ao
máximo a companhia uns dos outros e sejam felizes, caramba!” Recebi esta
mensagem numa daquelas noites, em que chorava baixinho deitada na minha cama,
enquanto ouvia o meu pai a vomitar as entranhas depois de levar uma dose da bem
dita quimioterapia, que juntamente com as minhas preces e o optimismo da minha
mãe nos ajudou a salvar a vida do meu pai. Depois disso percorri um longo
caminho de busca, e ainda o percorro diariamente, nem sempre preenchido de
certezas, especialmente quando me deparo com a infelicidade, a falsidade e a
inveja alheia. Mas quando olho para trás, quando encaro o meu presente e quando
penso no meu futuro, só posso agradecer a Deus, por tudo o que me deu. Sou uma
miúda de sorte, tenho uma boa estrela, não tenho motivos para encarar a vida de
forma pessimista, tenho tudo o que desejo, sou amada, sou desejada, tenho uma
família linda e cheia de saúde, um filho lindo e saudável, adoro o que faço,
adoro escrever e até tenho dinheiro para comparar um lindo par de sapatos sempre
que me apetece. Quando penso em todas estas coisas e em tantas outras alegrias,
julgo não ter sequer o direito em me chatear com as pequenas indisposições que
Ele nos envia para nos testar. E olhem que a mim…, testa-me todos os dias!