Sr. Di, meu filho, está a atravessar uma fase complicada,
ele é birras desde que acorda até que se deita. Este meu rapaz pequeno anda
levado da breca. É birra para ir tomar banho, é birra para sair da banheira, é
birra para ver os nés (tradução:
bonecos), é birra porque os nés acabaram,
é birra porque não quer aqueles nés,
é birra porque não quer ir para a mesa jantar, é birra porque quer ir no carro
do avô, é birra porque de manhã não quer ir para a escola, é birra para ficar
na escola… aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, a minha vida com este
minorca meio palmo de gente autoritário, birrento e teimoso.
Ontem estava uma noite fantástica, quente com cheiro a
verão. Jantámos cedo e porque não irmos passear a Nini (o nosso elemento
familiar da raça canina) e dar uma voltinha no parque? – pensei, olhando o meu
pequeno e adorado pestinha Assim foi, lá
fomos nós. Escorregou vezes sem conta em todos os escorregas, um deles deixava-lhe
o cabelo em pé com a eletricidade estática, (ficava tão engraçado!), também
andou no baloiço e em todos os outros divertimentos. As outras mães ficavam
estupefactas com a tamanha agilidade deste meu rapaz pequeno de apenas dois
anos. Não subia o escorrega pelas escadas mas pelo próprio escorrega, baloiçava
numa barra qual macaco na amazónia, corria, escorregava, baloiçava, ria, ralhava
com quem fizesse festinhas na Nini, porque a Nini é sua propriedade e ninguém tem
autorização para lhe tocar, enfim nenhum dos outros miúdos, e todos eles eram
mais velhos que o meu Di, conseguiam fazer metade do que ele fez ou tinham
metade da sua energia.
Depois de uma hora e
meia de escorregas e baloiços decidi que eram horas de regressarmos a casa. Comecei
a mentalizá-lo que devíamos ir embora e que aquela seria a ultima vez que
escorregaria. Aqui foi a pior parte!
Resultado: enfiou-se na plataforma dos escorregas e não
descia. Nem às minhas chantagens ele cedia “olha a mãe vai embora com a Nini e
tu ficas aqui sozinho” ou “olha o avô está à nossa espera” e a melhor de todas “olha
o parque vai fechar, o Sr. Porteiro vai fechar a porta e depois ficamos cá
trancados”. Algum tempo depois lá desceu, porque já não aguentava mais tempo
sem escorregar. Assim que o apanhei a jeito, e já passava das 10 da noite,
dei-lhe a mão e encaminhei-o para fora do parque. Começou a birra. Uma birra transcendental,
memorável, que jamais esquecerei. Debaixo do olhar dos vizinhos que passeavam
pelo bairro áquela hora, senti-me tão envergonhada, mas tão envergonhada… tive
de carregar com aquele pestinha ao colo até a casa com ele a espernear e não me
safei de uma valente mordidela que me deixou o braço negro. Em alguns olhares vi
reprovação, fui a má da fita, a vilã, a madrasta impaciente, noutros vi a
compreensão e senti-lhes no olhar a piedade do “sei bem o que isso é, o meu
também já foi assim.”
Conclusão: Sr. Di está de castigo, hoje não há nés para
ninguém e não mete os pés no parque tão cedo.
Com tanta qualidade que o pai tem, pois o meu rapaz pequeno logo
tinha de herdar o maior defeito do meu amor grande, a teimosia.