Bem,
mas esta história ficará para outras núpcias, o que aqui quero dizer é que
desde 2008 que vivo na minha casa e que esta está como no primeiro dia em que a
habitei. DES-PI-DA! Completamente nua. Primeiro, porque não tínhamos dinheiro,
a mensalidade do empréstimo levava-nos uma boa parte das nossas remunerações.
Convenhamos que com 900€ de renda e com ordenados não muito altos, era difícil
pensar sequer em gastarmos dinheiro na decoração da casa. Tínhamos o
indispensável, móveis na sala, sofás, TV, mobília de quarto, pratos, talhares,
tachos, panelas, 2 jogos de toalhas de casa de banho e 2 conjuntos de lençóis.
Não era grande quantidade, mas conseguíamos sobreviver dessa maneira e
gostávamos,” afinal de contas o que conta mesmo é o amor que nos une, o resto
virá por acréscimo” pensava, e ainda continuo a pensar. Também é verdade que
podíamos ter ido ao IKEA comprar uma boa quantidade de bibelôs e tecidos e
espalhar tudo lá por casa. Mas acontece, que de todas as vezes que fui e vou ao
IKEA vim e venho de lá sempre com um sentimento de vazio, “não gosto de nada”,
penso triste. Para além das molduras, dos talheres e da mobília de quarto do
meu rapaz pequeno, nunca achei graça a nada.
Bem,
adiante, depois a Euribor baixou e saímos de uma renda milionária para uma
renda capaz, o meu homem mudou de emprego e melhorámos sobejamente as nossas finanças.
Contudo, neste novo emprego, foi parar a um projecto no Porto, em que partia à
segunda e regressava à sexta. Eu regressei às origens (alegria no rosto do meu
pai!), e encontrávamos-mos à sexta-feira à noite para nos despedirmos no
Domingo. Ele vinha cansado e eu cansada estava, utilizávamos os fins-de-semana
para matarmos saudades e para namorarmos, nomeadamente no nosso lugar de
eleição, longe de casa. Nesta altura tínhamos dinheiro para gastos supérfluos
mas não tínhamos vontade nem tempo. Entretanto engravidei e dei prioridade à
visita que se fazia adivinhar. O importante, era preparar tudo para receber o
nosso bebé com todas os requisitos e formalidades. Comprei roupas e todos os
acessórios e apetrechos que o nosso bebé necessitaria quando decidisse dar o ar
da sua graça.
Depois do nascimento do meu Di a minha vida
deu uma reviravolta, o seu primeiro ano de vida foi complicado, o rapaz pequeno
chorava vinte e quatro horas por dia. Nenhum dos apetrechos com que me
preocupei em compra-lhe antes do seu nascimento o satisfaziam. Qual brinquedo,
qual cadeirinha de baloiço, o que ele gostava mesmo era de chorar e de
resmungar. O rapaz pequeno ia dando comigo em doida, não tinha cabeça nem tão
pouco paciência para cortinados, bibelôs e afins. Quando as coisas acalmaram um
pouco e o meu Di passou a choramingar só
12h por dia, porque as restantes passava a dormir, e eu já tinha alguma energia
para pensar e receber informação acerca de tecidos, cores e apetrechos de
decoração, pimbas o meu homem recebe um projecto na Bélgica. Partia à segunda e
a regressava à quinta. Isto durou um ano e mais qualquer coisa. Eu e o meu Di
regressámos de novo para casa dos avós, ele todo contentinho e eu toda contentinha
por eles, com o meu projecto de decoração a ir pelo cano abaixo.
Entre
todas estas idas e vindas houve momentos em que tive vontade de meter a mão na
massa e iniciar este projecto antigo. Sinto falta de um ambiente confortável
entre aquelas paredes despidas de vida, mas fui sempre dissuadida pelo meu
homem. Quando lhe dizia “encontrei uns cortinados giros cá para casa”, ele
contestava com um “deixa ver se encontramos outros mais giros” ou “porque não
esperamos pelos saldos?” Não sei porquê, mas estas palavras eram suficientes
para perder o ânimo e a vontade de fazer fosse o que fosse.
O
meu homem é uma jóinha de moço. É sim senhor. Tem muitas qualidades. Tem sim
senhor. Mas um dos seus maiores defeitos é a indecisão. É sim senhor.
Esta
semana tomei a decisão de reaver o meu projecto de decoração e já comecei a pôr
a mão na massa. Ontem comuniquei-lhe que já tinha escolhido o papel de parede
que iremos colocar na sala, ele veio logo com a conversa de que tinha visto
numa loja no Parque das Nações, uma solução muito engraçada que se adaptaria
muito bem à nossa sala e que gostava de lá ir ver melhor antes de tomarmos uma
decisão.
“Isso
é que era bom, não penses que desta vez me demoverás da minha decisão. Só te
dou até ao fim-de-semana, para lá irmos ver essa tal magnifica solução, sobre a
qual nunca me falaste. Se não formos, na segunda-feira encomendo o papel de
parede.”
Está
decidido, até ao final do ano vou dar um novo look à minha casa que precisa com
urgência de cor Ai vou, vou.
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