No outro dia li no
Wide Wake, blogue que acompanho já há
algum tempo, um post que falava de luxo, riqueza, dinheiro e de tempo. Fiquei
fascinada, não só por acha-lo muito bem escrito, uma característica comum a
todos os posts do Wide Wake, mas por sentir precisamente o mesmo e por neste
momento estar a viver uma situação muito idêntica à relatada.
Tenho o meu marido a trabalhar fora de Portugal, há quase um
ano, também já não somos marinheiros de primeira viagem, e no meio do
infortúnio temos muita sorte, ele parte à segunda-feira mas à quinta-feira já o
temos de volta. Agradecemos por e rezamos para não o desterrarem num desses
países, ditos emergentes, cujo PIB cresce a 500% por dia, mas que estão s mais
um zero de distância. Ganhamos mais dinheiro, muito mais, as ajudas de custo
são muito boas, mas perdemos tanto, perdemos o tempo, o tempo que não volta, o
tempo que não há ajudas de custo que paguem. Durante os quatro dias que está
ausente de casa, está privado do tempo connosco, especialmente do tempo com o
nosso filho que cresce mais do que o PIB desses tais países emergentes, tão
veloz que as diferenças são visíveis nesse espaço de tempo da sua ausência.
Custa, mas de momento é a única opção e temos de sobreviver
com isso. Sou optimista e tenho a certeza que melhores dias virão.
O tempo é sem dúvida um dos nossos maiores luxos e tantas
vezes o gastamos da forma menos proveitosa. Quando acabei a universidade
sonhava tornar-me numa executiva de topo, daquelas que entram cedo e saem às
tantas da noite, mas sempre com ar muito
aperaltado e sem olheiras, e que quando entram no elevador de acesso à garagem
para se irem embora para casa encontram o homem da sua vida e tudo acaba com um
beijo numa pizzaria onde são os únicos
clientes. Quando terminei a universidade tive a sorte (pensei na altura!) de
encontrar um emprego num private Banking de nome pomposo, vaidoso, como só ele,
em ser o anfitrião da mais fina flor da clientela. Tão vaidoso que nem se
apresentava, ao comum do cidadão, instalado num edifício imponente no centro de
Lisboa sem qualquer marketing, apenas uma placa pequenina dourada à porta da
entrada, anunciava o nome do grupo. Quando consegui aquele emprego nem queria
acreditar na sorte que tivera, apesar do ordenado de merda, o local era
deslumbrante e estava certa que aprenderia muito ali. Fiquei atordoada de
alegria. Infelizmente, pensava chorosa, não tinha propriamente um horário de
sonho daqueles apertados, sem tempo para almoçar e a sair às tantas, era considerada estagiária e não tinha funções
realmente importantes, e pior que tudo saía quase sempre dentro do horário
previsto, a não ser quando alguma reunião se estendia, mais um pouco, e
precisavam de alguém para servir café e biscoitos franceses aos clientes.
Ficava triste e sentia-me rejeitada quando, de Inverno, saía para a rua, ainda
com luz do dia, ou quando de verão ia passear para o Chiado porque o dia estava
convidativo à vadiagem. Invejava as minhas colegas que ficavam a trabalhar até
mais tarde e cujos serviços eram requisitados a cada minuto. Queria ser como
elas, doentes mentais sem vida própria que me enviavam e-mails informativos com
o logotipo do banco às onze da noite. Que inveja. Porque não sou eu! - Pensava.
Felizmente mudei a minha visão, ganhei juízo, hoje tenho um
emprego que gosto e onde me sinto útil, trabalho para e com a minha família,
onde o meu chefe é o meu pai, o avô querido do meu filho. Trabalho num local
onde posso levar o meu filho sempre que me apetece, especialmente quando está
doente, onde o comum é todos os empregados cumprirem as oito horas de trabalho
diárias e quando se excede esse período, são compensados monetariamente por
isso, onde o mais importante é a família e onde somos todos uma família, mesmo
os que não partilham o nosso tipo de sangue e onde todos vestimos a camisola da
casa e orgulhamo-nos da placa de quatro metros de comprimento por dois de
largura que temos pendurada por cima da porta da rua, que nos identifica como
uma equipa.
De facto, não me tornei numa executiva de topo com fatos
caros e joias ofuscantes, mas sou a herdeira de uma empresa próspera com mais
de trinta anos, reconhecida no mercado e que em tempo de crise tem-se aguentado
como gente grande. Tenho orgulho de empregar aqui o meu tempo, e de contribuir
para gerar riqueza para mim e para os meus, mas uma coisa garanto, não existe
melhor momento do que aquele em que meto os pés fora da porta, vejo a luz do
sol e penso na quantidade de horas que ainda tenho para brincar e rir com o meu
filho. E mimá-lo, mima-lo muito.