Tenho uma avó que não é a mãe de nenhum dos meus pais, é
apenas minha avó. Não partilhamos o mesmo sangue, mas partilhamos o mesmo amor
e o mesmo bem-querer que nos emociona sempre que nos reencontramos e que nos
unirá para além da vida que conhecemos. Esta minha avó adoptou-me como neta no
dia em que nasci e criou-me como as amas criam, com uma diferença, amou-me como
só as mães amam e deu-me o colo doce e reconfortante que só as avós têm. Nunca
me deu um ralhete, nem sequer alguma vez alterou o seu tom de voz meigo e açoites
não fazem parte do seu vocabulário, onde as palavras-chave são: amor e
paciência.
No dia em que partiu para o seu Alentejo, o Alentejo que eu
também adoptei, eu tinha nove anos e nunca mais esquecerei o dia mais infeliz
da minha infância. Não deitei uma única lágrima e não debitei uma única
palavra, mas o seu rosto encharcado molhava-me os cabelos e eu ouvia a sua voz
“Nas férias a tia vem buscar-te”, eu, muda de tristeza e com um enorme nó na
garganta, acenava com a cabeça. Vi-a entrar no Renault 5 branco e partir com o
rosário numa das mãos e a fotografia do seu Santo Padroeiro na outra. Corri
para casa da minha nova ama, que nunca adoptei como avó, nem com qualquer outro
parentesco e sentei-me a ver os desenhos animados enquanto o meu coração batia
com tanta força que quase me saltava do peito. Nessa noite e muitas noites
seguidas chorei de saudades e de tristeza.
E como o prometido é devido, sempre que tive férias da
escola a minha avó deslocou-se a Lisboa para estar perto de mim ou para
levar-me para a sua casa no Alentejo, onde me reencontrava com a minha restante
família adoptiva. Lembro-me que, sempre que ela chegava de viagem e vi-a entrar
naquele pátio onde um dia fomos tão felizes, era como se nos reencontrássemos
pela primeira vez e todo o sofrimento e sentimento de abandono ficava perdoado
e esquecido.
Actualmente, a minha avó tem oitenta e quatro anos e
continua a dar-me o melhor e mais reconfortante colo. Não passamos uma semana
sem declararmos o nosso amor e as saudades que temos uma da outra. Recordarmos o nosso anjo da guarda, o meu querido padrinho,
que aguarda pacientemente por nós, lá onde só as almas boas se reencontram um
dia.
A esta minha avó, nunca lhe chamei avó. Não sei porquê,
porque é o que ela realmente significa para mim. Sempre a chamei de tia, a
minha querida Tia Júlia.
Feliz dia dos avós Tia Júlia. Adoro♥te.
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