quarta-feira, 18 de abril de 2012

A minha realidade


No sábado há noite depois das secantes lides domésticas e depois adormecer o meu filho, consegui finalmente, deitar-me e descansar um pouco. Não sabia o que tinha, sentia-me vazia e triste, sem saber porquê, sem motivo aparente. Liguei a televisão e comecei a rodar canais. Nada de jeito, nem sombras das minhas séries favoritas. “A televisão ao sábado é uma seca.” – pensei.  Também não me apetecia ler, na realidade não me apetecia nada ao mesmo tempo que me apetecia tudo. Sentia-me indecisa, vacilante e medrosa com a vida, com a minha vida, com o presente, com o futuro. Chorei. Chorei baixinho para não levantar suspeitas. Não queria ser ouvida nem questionada. Não queria responder porquê. Não saberia o que responder! Chorei até me apetecer. Chorei de tristeza e não de cansaço, como queria acreditar. Quando finalmente me recompus, peguei de novo no comado e voltei a rodar canais na esperança de encontrar algo que me fizesse rir e esquecer.

Vi a figura esquisita de uma mulher que falava sobre si mesma com o “Thunder Road” de Bruce Springsteen, como música de fundo. Uma das minhas músicas favoritas do meu cantor favorito de sempre. Era a Laddy Gaga. Nunca lhe achei muita piada, nunca lhe tinha dado muita atenção, achava-a esquisitóide, meio louca, freak, até. Mas naquele momento chamou-me a atenção pelo facto de ela estar a falar do Bruce Springsteen. Parei um pouco para ouvi-la. Falava acerca da realidade, falava acerca de verdades.

Escrever e falar acerca da nossa verdade, da nossa realidade sem suavidades, sem o floreado da fantasia, não é fácil. Não é nada fácil assumir, erros, defeitos, vícios, depressões, tristezas, fraquezas e infelicidades. Irmãos toxicodependentes, pais bêbados. Amores infelizes, casamentos desfeitos, relações desastrosas. Aliás, é difícil, é muito difícil! Preferimos adoptar o papel de mulher/ homem feliz e realizado, satisfeito com o amor e com o trabalho, e viver uma merda de uma vida fantasiosa, aparentemente perfeita. Preferimos viver escondidos, e camuflar os nossos verdadeiros sentimentos atrás de um sorriso mentiroso deixando para trás o coração e o espirito doentes.

Meu Deus, é tão difícil assumirmo-nos, assumir a nossa crua existência, assumir os outros, assumir os nossos, tal como eles são e não como desejaríamos que fossem. I’ts hard, it’s very hard. It´s hard to live in this “hard Land”, como diria o Bruce.

Ao ouvir a entrevista da Lady Gaga, vi-a tal como ela é. Pude-lhe sentir a crueza desnuda de preconceitos sem qualquer embelezamento. Era ela, simplesmente ELA. O seu espirito, a sua mente e o seu coração estavam ali naquele momento, colados ao seu corpo. Liberta de farsas, de mentiras e especialmente estava livre. Livre para poder sonhar. E era assim que ela via o Bruce, dancing in the dark, livre e verdadeiro, na sua vida, nas suas letras, nas suas canções. Percebi que só sendo genuíno e autêntico podemos partir à descoberta, podemos sonhar, só assim podemos vencer, só assim podemos ficar, só assim resistimos, só assim podemos SER só assim encontraremos o nosso caminho. Nessa noite assumi-me, assumi a minha verdade, assumi a minha realidade, assumi as minhas fragilidades sem fantasias nem falsidades. E assim, vou vencer. Tenho a certeza, que vencerei.