No sábado há noite depois das secantes lides domésticas e
depois adormecer o meu filho, consegui finalmente, deitar-me e descansar um
pouco. Não sabia o que tinha, sentia-me vazia e triste, sem saber porquê, sem
motivo aparente. Liguei a televisão e comecei a rodar canais. Nada de jeito,
nem sombras das minhas séries favoritas. “A televisão ao sábado é uma seca.” –
pensei. Também não me apetecia ler, na
realidade não me apetecia nada ao mesmo tempo que me apetecia tudo. Sentia-me
indecisa, vacilante e medrosa com a vida, com a minha vida, com o presente, com
o futuro. Chorei. Chorei baixinho para não levantar suspeitas. Não queria ser
ouvida nem questionada. Não queria responder porquê. Não saberia o que
responder! Chorei até me apetecer. Chorei de tristeza e não de cansaço, como
queria acreditar. Quando finalmente me recompus, peguei de novo no comado e voltei
a rodar canais na esperança de encontrar algo que me fizesse rir e esquecer.
Vi a figura esquisita de uma mulher que falava sobre si mesma
com o “Thunder Road” de Bruce Springsteen, como música de fundo. Uma das minhas
músicas favoritas do meu cantor favorito de sempre. Era a Laddy Gaga. Nunca lhe
achei muita piada, nunca lhe tinha dado muita atenção, achava-a esquisitóide, meio
louca, freak, até. Mas naquele momento chamou-me a atenção pelo facto de ela
estar a falar do Bruce Springsteen. Parei um pouco para ouvi-la. Falava acerca da
realidade, falava acerca de verdades.
Escrever e falar acerca da nossa verdade, da nossa realidade sem
suavidades, sem o floreado da fantasia, não é fácil. Não é nada fácil assumir,
erros, defeitos, vícios, depressões, tristezas, fraquezas e infelicidades. Irmãos
toxicodependentes, pais bêbados. Amores infelizes, casamentos desfeitos,
relações desastrosas. Aliás, é difícil, é muito difícil! Preferimos adoptar o
papel de mulher/ homem feliz e realizado, satisfeito com o amor e com o
trabalho, e viver uma merda de uma vida fantasiosa, aparentemente perfeita.
Preferimos viver escondidos, e camuflar os nossos verdadeiros sentimentos atrás
de um sorriso mentiroso deixando para trás o coração e o espirito doentes.
Meu Deus, é tão difícil assumirmo-nos, assumir a nossa crua
existência, assumir os outros, assumir os nossos, tal como eles são e não como
desejaríamos que fossem. I’ts hard, it’s very hard. It´s hard
to live in this “hard Land”, como diria o Bruce.
Ao ouvir a entrevista da Lady Gaga, vi-a tal como ela é. Pude-lhe
sentir a crueza desnuda de preconceitos sem qualquer embelezamento. Era ela,
simplesmente ELA. O seu espirito, a sua mente e o seu coração estavam ali naquele
momento, colados ao seu corpo. Liberta de farsas, de mentiras e especialmente estava
livre. Livre para poder sonhar. E era assim que ela via o Bruce, dancing in the
dark, livre e verdadeiro, na sua vida, nas suas letras, nas suas canções. Percebi
que só sendo genuíno e autêntico podemos partir à descoberta, podemos sonhar,
só assim podemos vencer, só assim podemos ficar, só assim resistimos, só assim
podemos SER só assim encontraremos o nosso caminho. Nessa noite assumi-me,
assumi a minha verdade, assumi a minha realidade, assumi as minhas fragilidades
sem fantasias nem falsidades. E assim, vou vencer. Tenho a certeza, que
vencerei.