quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Tenho para mim...

... que, o distanciamento físico, mesmo que temporário, quando não bem gerido, tem o mesmo impacto que uma tesoura bem afiada numa foto de família. Provoca danos irreversíveis numa relação. Acredito que perante a separação algumas relações arrebatadoras, consistentes e sólidas protagonizadas por loucos apaixonados e amantes inveterados morrem ou pelo menos entram num estado de coma profundo, difícil de emergir.

O que outrora fazia palpitar o coração dos protagonistas de uma história de amor fogosa e libidinosa passa a uma relação apática e indiferente e outras tantas vezes conflituosa. As pequenas imperfeições de antigamente ganham contornos absolutamente monstruosos e insuportavelmente irritantes. Os ideais pelos quais ambos sempre lutaram divergem e deixam de fazer sentido. Deixam de competir no mesmo campeonato para granjear por um prémio que difere de morada com lençóis de cetim. Pior do que isto, só quando o edredão partilhado, debaixo do qual, em tempos, os transportava até ao mais recôndito dos apogeus, adquire, como que por magia, uma barreira fria, invisível e intransponível a qualquer contacto físico e emocional.

No que toca ao amor, não me contento com o morno, desejo o escaldante, o tórrido, o tudo ou nada. Não me sacio com o meio-termo, nem tão pouco com divisões equitativas. Quero por inteiro, não admito partilhas. Aquando o fim-de-semana, e o recebo de regresso nos meus braços, com semelhante astúcia há de uma raposa que quer caçar a sua presa, visto a minha pele mais sensual, acendo a caldeira, ligo o aquecimento central, uso dois edredões e, se for caso disso, encho o saco de água quente. Mas nunca, em hipótese alguma, corro o risco de deixar o nosso amor amornar. É a minha artimanha para manter o meu álbum de família longe dessas tesouras bem afiadas destruidoras de lares.


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