segunda-feira, 17 de setembro de 2012

14.º Campeonato de Escrita Criativa – 4.º Desafio


Detesto faltar aos meus compromissos. Quando me proponho a fazer algo honro sempre a minha palavra. Detesto chegar atrasada, chego mesmo a sentir calafrios e não aceito desculpas para não cumprir o prometido. Apreendi da maneira mais dura a respeitar os meus compromissos quando na universidade fui impedida de apresentar um trabalho por ter chegado atrasada.
Antes não tinha a noção de como isso incomodava os outros, de como abusava de um dos mais importantes direitos consagrados a cada Ser Humano, o tempo. O tempo dos outros e o nosso tempo. O tempo é um privilégio que deve ser disponibilizado por cada um, conforme lhe apetece e por isso não temos o direito de privar outrem do seu tempo.
Infelizmente, (e só de pensar fico doente) esta semana não tive qualquer hipótese de cumprir com a minha participação no concurso de escrita. O meu Di, ficou doente a meio da semana, não foi à escola, e com ele por perto, sempre a solicitar atenções e miminhos torna-se impossível a minha concentração para escrever.
Tentei escrever algo no Sábado, mas não consegui. O cansaço falou mais alto e acabei por desistir. Preferi não entregar nada, a entregar algo sem qualidade. No entanto, aqui ficam algumas linhas do que escrevi para o desafio da semana.

Em que é que a expressão “uma ventania de riso” o faz pensar?

Todas as manhãs, só de pensar que tinha de passar naquele corredor sentia náuseas, o suor escorria-me dentro da camisola, revolviam-se-me as entranhas.

Os gritos e as risadas de escárino daqueles miúdos crueis enquanto percorria aquele maldito corredor em direcção à minha sala de aula eram como murros na barriga. Desde cedo aprendi o quão difícil é ser-se feia e gorda.

Aquela ventania de riso actuava em mim como um ciclone de raiva e ódio. Sentia-me pequenina, insignificante e diminuta, exactamente o oposto da minha aparência grande e sebenta. - Olha a gorda! – Era a mais amistosa saudação que podia ouvir. Creio que Jesus não ouviu tantos insultos enquanto percorria o caminho que o levava ao calvário, como eu, quando percorria aquele tunel de obscenidades. Ok. Jesus não sofria do mais desprezivel dos defeitos. Não era gordo e até há quem diga que era um Tipo bem-apessoado!

 Mas o pior disto tudo, nem era o facto de ser a gorda da corte, ou o bode expiatório para todas as maleitas e problemas do liceu. Nem mesmo os gestos obscenos e a dor física dos pontapés infligidos me feriam como a minha cumplicidade. A minha vontade de ser aceite por aquele grupo, obrigava-me a gargalhar a cada pontapé infligido e a sorrir a cada apalpão dolorosamente ordinário. Fingia que não me importava e que até gostava de ser apelidada de gorda, sorria com as obscenidades gritadas por bocas que ainda não conheciam o seu significado. Magoava-me, feria-me no mais profundo do meu âmago só para pertencer aquela tribo. Só para ser aceite. Afinal, é o que todos queremos, pertencer a algo, a alguém, ter raízes.

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