
Depois de uma lua-de-mel pouco glamorosa, mas muito romântica, pusemo-nos a caminho, rumo ao nosso “ninho de amor”. Foi uma noite e tanto, aquela em que pela primeira vez, dormimos na nossa nova casa, no nosso novo quarto, na nossa nova cama e nos menos novos, e já usados, lençóis que a minha mãe me emprestou e que eram meio metro mais curtos que o colchão. Como se não bastasse o frio que passámos em Medelim, também a nossa casinha se revelou numa pequena filial de Yakutsk (a cidade mais fria do mundo). E não havia amor que conseguisse aumentar a temperatura! Os primeiros dias vividos na nossa nova casa foram longos, quase intermináveis, difíceis e espinhosos! Para além das saudades do convívio e do calor familiar, o frio era desolador, desesperante e até mesmo deselegante, fazendo de mim uma imitação rasca das bonecas matrafonas. Para além dos dois edredões que cobriam a nossa cama, por cima do pijama, ainda vestia uma camisola de lã de gola alta, robe e meias grossas, revelando-me numa noiva pouco sexy e atractiva.
Depois de uma pesquisa exaustiva e de compras infrutíferas de aquecedores, radiadores e outros que tais, chegámos à conclusão que o ideal seria um potente ar condicionado, que transformasse por completo as nossas vidas. Depois de várias visitas de técnicos especializados (diziam eles!), com opiniões bastante diferenciadas relativamente à potência da dita máquina, finalmente decidimos por um maquinão capaz de provocar o degelo no Pólo Norte. A partir desse dia, o sol nasceu para nós e fez-se primavera lá em casa! O meu querido deixou de ligar o secador para aquecer a casa de banho antes do seu duche matinal e nunca mais falou em dormir na garagem, que tinha uma temperatura notoriamente mais agradável que a nossa casa. Eu deixei de visualizar o meu próprio bafo, o meu nariz deixou de pingar e o seu tom rosado desapareceu. Viva a primavera! Viva!
Contudo, as nossas dificuldades pós-nupciais não se ficaram por aqui. Eu e a panela de pressão não nos entediamos de maneira nenhuma, até ela se revoltar e atirar com a canja de lá para fora, numa explosão ruidosa de massa e frango que se colaram aos azulejos e ao tecto. A máquina de lavar a roupa resolveu aproveitar o embalo e também ela manifestar o seu descontentamento expelindo toda a água que continha, inundando a minha magnífica cozinha. Isto tudo, só porque, ficou presa entre o óculo e a máquina, uma minúscula peça de roupa, que agora não vou divulgar qual! Muito sensível esta maquineta, não!?
Enfim, tivemos um começo de vida um tanto ao quanto atribulado. Contudo, a normalidade imperou e hoje vivemos dias de paz aliados a momentos de louca e avassaladora paixão, qual lua-de-mel prolongada. Ah!, tirando os dias em que nos chateamos porque o fulano está muito mal habituado e não quer participar nas lides domésticas! Mas essa parte fica para outras núpcias.
No final de contas, o que interessa, é que cada momento valeu e vale a pena. (Mesmo aqueles menos abençoados!) Estou a adorar esta nova fase da minha vida. Ou melhor, esta nova fase das nossas vidas! Espero e desejo, veemente, que esta história se prolongue até ao ultimo capitulo dos nossos livros e que termine daqui a noventa anos com um: “E foram felizes para sempre!” ou um “Até que a morte os separe!”.
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