quinta-feira, 29 de abril de 2010

Viagem à Jamaica

Ora bem, aqui estou eu para vos contar tudo acerca das minhas férias na terra do tio Bob.
Confesso não ter ficado impressionada com aquela minúscula ilha perdida algures no mar das Caraíbas entre Cuba e a Hispaniola. Este lugarejo gerou em mim um sentimento que se divide entre um misto de amor versus decepção. Como diriam Claudine e Andrée, os franceses com quem tive o prazer de travar amizade e a quem servi de intérprete na excursão a Negril, já que a Cubana que nos servia de guia, (a qual baptizamos de Fidela e até hoje estou para saber qual o seu verdadeiro nome!), não falava uma única palavra da língua de Carlos Magno: j'ai été un peu désillusionnée.
Cádê as praias paradisíacas que as operadoras turísticas anunciam nos catálogos de vendas? Hmmm? Cádê aquele areal de areia prateada e fina salpicado de coqueiros vergados pelo peso das folhas que batem na água? Era a questão que se punha constantemente sem que ninguém nos conseguisse responder até conhecermos a guia Fidela, que no apogeu da sua arrogância nos informou que, “NO HAY! ”
Existe um mar lindo e cálido de mil e uma cores indecifráveis impregnado de corais e peixes multicolores que vêm comer nas nossas mãos e que visto através da máscara de snorkeling mais parece um enorme aquário do qual também nós fazemos parte integrante, sendo eu a sereia. (Alguém tem de ser a baleia!) Mas areia fina e prateada só numa das ilhas das redondezas. E para lá chegar, só a nado! Para além das praiazitas artificiais de gravilha e terra construídas pelas cadeias hoteleiras com o intuito de servir os seus hóspedes, o mais parecido com praia que encontrámos foi em Negril, e mesmo assim deixou um pouco a desejar. Mais parecia a Costa da Caparica. Mas sem brasileiros e sem bolas de berlim!
Assim sendo, tivemos de nos render às evidências e contentarmo-nos com aquilo que esta pequena ilha tinha para nos oferecer. Se não existem as praias paradisíacas que sonhámos encontrar, o que é que existe então? Hmmm? Montanhas e cascatas! Então “bora” lá ver essas montanhas e essas cascatas! Alugámos, os serviços turísticos do Martin, um simpático taxista, e dividimos o seu pequeno furgão com mais quatro conterrâneos com quem inesperadamente travávamos amizade logo no voo. Metemo-nos pela montanha acima onde pudemos vislumbrar paisagens de cortar a respiração até chegarmos a Nine Mile onde visitámos o Mausoléu do Bob Marley e onde me estreie com uma valente broca. É verdade, foi preciso ter trinta e um anos, viajar até à Jamaica para ir contra tudo aquilo que sempre institui como correcto desde miúda! Confesso que não senti rigorosamente nada. Quando digo nada é mesmo NA-DA. Não tive nenhum ataque de riso nem tão-pouco me senti ultra extasiada como os meus colegas de liceu demonstravam sentirem-se. Não sei se deveu ao facto de dividirmos um charro por sete (nem queria acreditar que o sacana do taxista estava a fumar erva para depois ir conduzir montanha abaixo!), ou se o tipo que nos vendeu aquele cigarro grosso de cheiro esquisito era apenas um impostor. However, o importante agora é destruir todas as fotos incriminatórias que possam pôr em causa a nossa autoridade parental, caso contrário já estou a ver os putos: “Oh mãe, o que é que tu e o pai estavam a fumar quando tiraram esta foto? Agora é a nossa vez de vos pôr de castigo!”
Seguindo caminho fomos parar às cascatas Dunn’s River Falls onde submersos por aquela água gelada tivemos de trepar pedregulho por pedregulho até chegarmos ao topo. Para repormos energias o Martin levou-nos a um tasco chamado Moms Restaurant, a fim de provarmos as iguarias Jamaicanas todas elas servidas em pratinhos e tigelas de plástico reutilizáveis. Yackkk NO-JO! Pior que isso só no restaurante em Negril onde nos levou a Fidela.
Em Ocho Rios visitámos o mercado de artesanato onde comprámos uns souvenirs vendidos por um povo grogue de olhos esbulhados e mortiços quais gorazes asfixiados e de mentes turvas e anestesiadas de tanta droga. Devo dizer que nunca me aconteceu comprar souvenirs tão caros. E ainda por cima quase todos eles made in China!
O resto dos dias passaram-se pacatamente entre banhos demorados, sessões fotográficas, e beijos, muitos beijos com alguns Murritos e Pina Coladas à mistura. Esta calmaria só foi interrompida pelo medíocre e excessivamente caro, passeio a Negril onde acabámos a tarde no Ricky’s Café a assistir a um pôr-do-sol tímido e ao exibicionismo de uns nativos corpulentos, (o que de mais parecido existe com orangotangos), que pendurados nos galhos das árvores se atiravam ao mar depois de uma dúzia de acrobacias e saltos mortais.
Desta nossa segunda lua-de-mel ficaram as saudades do dolce fare niente, do sabor doce dos seus beijos e abraços, dos banhos mornos ao luar, dos corais e das cores indecifráveis de seres nunca antes vistos mergulhados no azul cristalino da água morna do mar Caribenho, da selva que abafa as montanhas, das gotas de chuva grossas e pesadas que quase nos perfuravam o crânio mas que nos refrescavam a alma, das novas amizades e dos suculentos crepes do pequeno-almoço.

PS. Só por estar contigo valeu a pena!

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