quinta-feira, 30 de maio de 2013

Precious Time


No outro dia li no Wide Wake, blogue que acompanho já há algum tempo, um post que falava de luxo, riqueza, dinheiro e de tempo. Fiquei fascinada, não só por acha-lo muito bem escrito, uma característica comum a todos os posts do Wide Wake, mas por sentir precisamente o mesmo e por neste momento estar a viver uma situação muito idêntica à relatada.
Tenho o meu marido a trabalhar fora de Portugal, há quase um ano, também já não somos marinheiros de primeira viagem, e no meio do infortúnio temos muita sorte, ele parte à segunda-feira mas à quinta-feira já o temos de volta. Agradecemos por e rezamos para não o desterrarem num desses países, ditos emergentes, cujo PIB cresce a 500% por dia, mas que estão s mais um zero de distância. Ganhamos mais dinheiro, muito mais, as ajudas de custo são muito boas, mas perdemos tanto, perdemos o tempo, o tempo que não volta, o tempo que não há ajudas de custo que paguem. Durante os quatro dias que está ausente de casa, está privado do tempo connosco, especialmente do tempo com o nosso filho que cresce mais do que o PIB desses tais países emergentes, tão veloz que as diferenças são visíveis nesse espaço de tempo da sua ausência.
Custa, mas de momento é a única opção e temos de sobreviver com isso. Sou optimista e tenho a certeza que melhores dias virão.
O tempo é sem dúvida um dos nossos maiores luxos e tantas vezes o gastamos da forma menos proveitosa. Quando acabei a universidade sonhava tornar-me numa executiva de topo, daquelas que entram cedo e saem às tantas da noite,  mas sempre com ar muito aperaltado e sem olheiras, e que quando entram no elevador de acesso à garagem para se irem embora para casa encontram o homem da sua vida e tudo acaba com um beijo  numa pizzaria onde são os únicos clientes. Quando terminei a universidade tive a sorte (pensei na altura!) de encontrar um emprego num private Banking de nome pomposo, vaidoso, como só ele, em ser o anfitrião da mais fina flor da clientela. Tão vaidoso que nem se apresentava, ao comum do cidadão, instalado num edifício imponente no centro de Lisboa sem qualquer marketing, apenas uma placa pequenina dourada à porta da entrada, anunciava o nome do grupo. Quando consegui aquele emprego nem queria acreditar na sorte que tivera, apesar do ordenado de merda, o local era deslumbrante e estava certa que aprenderia muito ali. Fiquei atordoada de alegria. Infelizmente, pensava chorosa, não tinha propriamente um horário de sonho daqueles apertados, sem tempo para almoçar e a sair às tantas,  era considerada estagiária e não tinha funções realmente importantes, e pior que tudo saía quase sempre dentro do horário previsto, a não ser quando alguma reunião se estendia, mais um pouco, e precisavam de alguém para servir café e biscoitos franceses aos clientes. Ficava triste e sentia-me rejeitada quando, de Inverno, saía para a rua, ainda com luz do dia, ou quando de verão ia passear para o Chiado porque o dia estava convidativo à vadiagem. Invejava as minhas colegas que ficavam a trabalhar até mais tarde e cujos serviços eram requisitados a cada minuto. Queria ser como elas, doentes mentais sem vida própria que me enviavam e-mails informativos com o logotipo do banco às onze da noite. Que inveja. Porque não sou eu! - Pensava.
Felizmente mudei a minha visão, ganhei juízo, hoje tenho um emprego que gosto e onde me sinto útil, trabalho para e com a minha família, onde o meu chefe é o meu pai, o avô querido do meu filho. Trabalho num local onde posso levar o meu filho sempre que me apetece, especialmente quando está doente, onde o comum é todos os empregados cumprirem as oito horas de trabalho diárias e quando se excede esse período, são compensados monetariamente por isso, onde o mais importante é a família e onde somos todos uma família, mesmo os que não partilham o nosso tipo de sangue e onde todos vestimos a camisola da casa e orgulhamo-nos da placa de quatro metros de comprimento por dois de largura que temos pendurada por cima da porta da rua, que nos identifica como uma equipa.
De facto, não me tornei numa executiva de topo com fatos caros e joias ofuscantes, mas sou a herdeira de uma empresa próspera com mais de trinta anos, reconhecida no mercado e que em tempo de crise tem-se aguentado como gente grande. Tenho orgulho de empregar aqui o meu tempo, e de contribuir para gerar riqueza para mim e para os meus, mas uma coisa garanto, não existe melhor momento do que aquele em que meto os pés fora da porta, vejo a luz do sol e penso na quantidade de horas que ainda tenho para brincar e rir com o meu filho. E mimá-lo, mima-lo muito. 

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