quarta-feira, 6 de março de 2013

Um pouco mais do que meia dúzia de palavras

Estive agora mesmo a ler este post da Pipoca. Vi-me e revi-me nele. Sei o que é ter vontade de chorar sem motivo aparente. Sei o que é sentir aquele “bicho” que nos consome a alma e nos corrói a mente. Aquela dor que não deixa marca física, aquela sensação de mal-estar continuo, aquela sensação de que nos falta algo, aquela sensação de que nos falta fazer algo, aquela sensação de que nos falta alguém, mas o quê, mas quem, Meu Deus? O QUE É QUE EU TENHO? Não sei explicar o que é, mas é um sentimento que me fode a desejada e ambicionada felicidade. Sei o que é acordar num magnífico e resplandecente dia de verão e ver tudo cinzento. Sei o que é olhar em redor e não enxergar. Sei o que é odiar o mundo ou não sentir absolutamente nada. Sei o que é a raiva, sei o que é a puta da apatia. Sei o que é não apetecer tirar o pijama ou sequer lavar os dentes. Sei o que é olhar-me no espelho e não vislumbrar gente, gente merecedora, gente feliz. Sei o que é passar de um estado apático intenso para um estado de euforia arrebatadora em que só me apetece falar, falar, falar… Mas tal como a Pipoca não sei explicar o que sentia, porquê que me sentia assim. “Tenho a alma das avessas.” – Era o que me lembrava.
Contudo tive a sorte de perceber o que tinha. Tive alguns exemplos à minha volta que me deram competências para me auto-diagnosticar. Uma puta de uma depressão tinha-se instalado em todo o meu corpo sem um pedido de autorização, sem um requerimento. “O que é que eu faço agora?” Ao psicólogo não queria ir porque não queria que a minha família se apercebesse (fartinhos de saberem estavam eles!). Até podia ir às escondidas, mas e qual era a justificação para gastar tanto dinheiro?- “ Nãããã! Nessa não caiu! “– pensei, estupidamente.  
Pensei que devia consultar o meu médico de família. A última vez que me senti assim de alma vazia, andava eu na universidade. Na época receitou-me uns comprimidos fantásticos, ao fim do segundo já me sentia outra. Tinha esperança que também resultasse dessa vez.
- Olá Doutor. – Cumprimentei-o à entrada do consultório.
- Olá miúda. Tudo bem?
O meu médico é também meu amigo e amigo de toda a família. É um senhor na casa dos cinquenta e muitos anos, um tipo de boa índole, muito humano, muito terra à terra. Conheço-o desde sempre, nem me lembro a idade com que fui à sua primeira consulta, era criança, talvez uns três anos.
- Tudo bem doutor. – respondi-lhe.
- Tudo bem?? O que se passa? Pareces-me triste! O teu pai, e o resto da família estão bem?
- Sim doutor está tudo bem. Estamos muito bem.
- Tu não me pareces nada bem.
- Sinto-me cansada doutor. Preciso que me dê umas vitaminas.
- Para além do cansaço, o que se passa?
E foi assim, bastaram um pouco mais de meia dúzia de palavras deste meu amigo para a armadura estatelar-se no chão. Saí de lá rejuvenescida e com a certeza de que afinal não sou maluca. Estivemos duas ou três horas naquele consultório a conversar, aliás, eu falava e ele ouvia. Chorei tanto que lhe gastei os lenços todos. Ele teve de desmarcar as restantes consultas.
Este meu amigo, a quem estou eternamente grata, ajudou-me a iniciar o meu salvamento, o resto foi por minha conta e continua a ser minha obrigação manter-me saudável. Todos os dias, imponho-me o optimismo e agradeço a Deus todas as bênçãos da vida. Tenho para mim, que mantermo-nos à tona com uma mente saudável é um treino intimo diário de amor-próprio que tento praticar todos os dias. Apreendi que nada é tão mau quanto parece.
Espero que o meu exemplo sirva a quem está precisado, nem que seja apenas de consolo, afinal tudo tem uma razão de existir e os caminhos não se cruzam por acaso.

Sem comentários:

Enviar um comentário